23 junho, 2009

Maria do Sameiro Barroso lança novo livro


Maria do Sameiro Barroso, vencedora do Prémio de Poesia António Patrício 2008, atribuído pela SOPEAM (Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos), verá a sua mais recente criação poética, "As Vindimas da Noite", com a chancela Labirinto, ser lançada no próximo dia 26 de Junho, às 18h 30m, na Livraria Centésima Página, em Braga.
A apresentação caberá ao escritor e ensaísta Carlos Vaz.
Apareça!

13 junho, 2009

são mortais


-kassandra.

deixaste sobre a minha secretária uma nota .esqueceste no entanto de assiná.la .não é que seja necessário .não tenciono responder .não quero responder à chuva .sim .há uma chuva irritante que cai dentro das palavras .encharca.as .fá.las escorrer .a nota inicial mente colorida com caracteres uniformes re toma a virgindade inicial .resta o vazio .seco .sabes que me apetece enchê.la de vagabundos dissidentes prostitutas e marginais? claro que sabes .sabes que os prefiro aos seres perfeitos e previsíveis re vestidos de tristes memórias e palavras cinzentas .aqueles pelo menos foram concebidos em liberdade .in tolerados .são os transgressores dos ritos .escrevem com os corpos textos proibidos e sangram cidades estrelas bairros e subúrbios .há uma sintonia perfeita entre eles e os ponteiros do relógio
são mortais


gabriela rocha martins.

06 junho, 2009

Sem mais...

Centro de uma Papoila-das-searas (Papaver rhoeas)
foto: Augusto Mota


Sem mais arrefecer-me o sangue
que venha
o incenso descampado
de flores em movimento
de olhos fechados
oferecer-me a boca.
Há escaparates
de mãos ardentes
e uma sede feroz.

Que venha
um deus de fogo
o tempo jurado contra a noite
os pântanos que a morte tem.
Na cintura do parque,
os ossos dilatam-se,
e eu tenho a chave da noite.

Graça Magalhães.

02 junho, 2009

A TRISTEZA PÚBLICA

Veios de uma velha oliveira / foto: Augusto Mota

funda-se a tristeza num só dia, despoja-se da inutilidade das coisas áridas,
permanece um sopro de vento, uma lembrança inquieta, uma espera sobressaltada no sabor de um café,
tudo se espelha aparente, mensurável, tudo padece da quietude severa de quem forjou o silêncio, tudo muito antes da nomeação do homem público
tudo se distribui, desirmana, se esbate de improvável alegria,
um nome mais forte numa língua árdua dissolve-se, não aguarda,
tudo se arrima ao baralho insolente de prendas várias, irreconciliáveis de repente,

e eu que folgo o jeito desastrado que há nas coisas,
desbravo um caminho de água só com o frémito das palavras,
quero-as sem as ter alinhadas nos vales , nas enseadas,
por distracção chovem gotas de água nos olhos de fera presa,
mancham as peúgadas , irreconciliáveis às vezes,
cobrem de mar o infinito que decresce opaco,
num relógio mal preso ao susto de um pulso indefeso,
circula o sangue de que sou feito, e é-me estranho.

ando, palmilho o distante , o secreto, a chama trémula,
o vento invariável e opresso na ausência,
vagueio pela vigília, sigo adiante,
porque não me sei nem mais perto nem mais longe;
o tempo irrompe da crisálida, a primavera e o seu sustento,
não há chave duradoura nas mãos, há o fundamento
inteiro , liso de não cobrir os dias com a velha malha,
o podre ardil que assalta as coisas inócuas e as releva,
não se sobressalta , não desafia não arrisca a cor aos dias,
distribui-se a ferramenta, o fosco olhar da aritmética,
o fundamento cruza as árvores, socorre-as do desbaste;
ergue-as no linho dos pássaros, alimenta-as,
não é vão clamar por exílio deste mundo ,
que se apura na grosseria do homem público,
no desaire de reparação ao crescendo enfado,
de se ouvir tanques, explosões de guerras várias
negócios , fraudes , alinhamentos , cegueira que não invade
lidando com a irrelevância de coisa pouca dos nossos dias.


José Ribeiro Marto