27 abril, 2009

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Campos do Vale do Lis / foto: Augusto Mota
22.
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Amo nos olhos que tomaste
com as mãos
as palavras que escrevo e amargo
o silêncio que devolve
o cérebro a doer
o coração em ferida
o líquido castanho dos olhos
quando se esbate como campos que devastam.

Amo o caminho que se alonga nos dias
os labirintos que se inflamam direitos aos alvéolos.

Só quero adoecer nos meus lugares e morrer nas tuas mãos.

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Graça Magalhães, Lavrar no Corpo das Algas [2008], Palimage.

25 abril, 2009

nova história do capuchinho vermelho



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Era uma vez um menino que vivia numa aldeia .
Toda a gente da aldeia o conhecia . Certo dia a sua avó fez-lhe
um capuchinho vermelho, e todos os seus amigos passaram a chamar-lhe "cravo vermelho".
Um dia, a sua mãe, preparou-lhe um cesto com bolos e mel para levar à avó, que estava doente. No caminho encontrou um lobo mau, este fez-se de amigo e perguntou ao menino:
- Onde vais?
- Vou visitar a minha avozinha que está muito doente.
O lobo,com ar matreiro,disse ao petiz:
- Também seria bom que eu fosse visitar a tua avó! – Exclamou .
- Excelente ideia. – Afirmou o menino.
O que ele não sabia é que o lobo iria pelo caminho mais longo.
E assim foi, o lobo chegou primeiro e comeu a avozinha.
Quando o cravinho vermelho chegou a casa da avozinha viu um lobo que estava deitado na cama da sua avó.
O capuchinho, de nome cravinho vermelho, apenas se apercebeu que a avó tinha umas mãos grandes, uns olhos grandes e por fim uma boca enorme.
E perguntou:
- Avozinha , porque tens as mãos, os olhos e a boca tão grandes?
Respondeu:
- A boca é para te comer! As mãos, para te abraçar e os olhos para te ver bem.
De repente salta da cama o lobo, disfarçado de avozinha, e come o menino, adormecendo de seguida.

Um caçador que por ali passava apercebeu-se que o ressonar não era da senhora velhinha que ali vivia.
Entrou e viu o lobo a dormir e lembrou-se que este podia ter comido a avó.
Foi quando lhe cortou a barriga de onde lhe saiu o capuchinho e a avó.
Antes de lhe fechar a barriga, agarrou num monte de pedras e pôs lá dentro.

Os três, o caçador, o capuchinho e a avó do menino, ficaram muito contentes e fizeram uma merenda para comemorar.
Hoje o menino chora a avó,porque já morreu e não podia viver para sempre.
O caçador desapareceu, dizem que fugiu para lugar incerto.
E o menino é um rapaz de 35 anos que ficou dentro da barriga da estória a comer o 35 de Abril com bolos e mel .



maria azenha

24 abril, 2009

CAMPOS DE LUZ, CAMPOS DE LIBERDADE

Pampilhos-das-searas
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Pampilhos-das-searas (Chrysantemum segetum)
Campos do Lis / foto: Augusto Mota

25 de ABRIL

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Pampilho-Sol-da-Liberdade

20 abril, 2009

PERGUNTA PELO SOL

Onde está menino o sol que te ilumina
E o menino apontava para os olhos;
Grandes correntes de muito mundo visto,
O prazer de um sorriso brevíssimo,
Os olhos quase fechados pela pergunta,
Pela claridade imediata da pergunta,
A resposta dada, só silêncio intocável,
admiração perdida;
Sentia-se rodeado de destroços perto de um poço fundo,
De água dada a beber a viandante de raros mundos,
Estava na velha casa de séculos e de contos,
E um cão ia acompanhar o viandante à estrada,
Como se fosse o seu dono perdido,
Num caos de encontros introspectivos .
O menino ficava com o sol nos olhos,
E o sol deixava á noite a escuridão,
Uma herança de estrelas ,
Interrogava as coisas simples,
Que á noite se espelhavam no coração,
De horas antes de o sono se fechar por segundos,


O menino sabia apontar o sol nos seus olhos,
imaginar as coisas frias como a água que deu a beber ao viandante,
Que roubava horas ás pessoas, dizia-se :
Por não fazer perguntas práticas,
Não olhar as coisas pelo seu lado opaco,
Não oferecer uma gargalhada de usufruto comum ,
Teimar em cobrir o horizonte de sombras ,
Quando tudo se aninhava na solidão com silêncio seco

José Ribeiro Marto

17 abril, 2009

a excepção da regra 9.

esse coro de anjos tem a ressonância do teu afago.
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enquanto te aguardo, escrevo.
enquanto escrevo, me guardo.
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maria toscano
Coimbra, 17 abril /2009
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(se estais de férias: que vos sejam boas! abraço, mt)
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11 abril, 2009

a queda da sombra - 7. mt

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esta a folha
a árvore feita casa
onde se acolhe
o que alumia.
além da sombra.
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a demora cristalina
na passagem
brilho suave
vibra
palavra-chave.
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maria toscano, de a queda da sombra (inédito).
Coimbra, Café St.ª Cruz. 7 Abril/ 2007 e 6/Abril 2009.

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a queda da sombra - 6. mt

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à espera que
outro
nos ressuscite
pela cobardia nossa
caminhamos
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algemados pelo ódio
e a vingança
prolongamos a agonia
nossa. vã.
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à espera que o passado
intemporal
se repita à imagem nossa

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semelhança
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nem festejamos a de outro nem almejamos
a nossa
ressurreição.

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maria toscano, de
a queda da sombra (inédito).
Coimbra, Café St.ª Cruz. 7 Abril/ 2007
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(para ler os outros textos, p.f. aceder ao sulmoura ).

10 abril, 2009

poços de luz



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pintura de mário botas


fui à procura da palavra
que sonhei esta noite

há um espelho nas paredes da rua
um espelho gigante

as letras chegam-me por poços rodeados
de diamantes
crescem dos braços para a lua

o silêncio
uma ciência que se prolonga
no sangue


há praças onde esculpir o sol


maria azenha

09 abril, 2009

UMA PALAVRA

anda aqui formigando uma palavra,
voa, ajeita–se num sopro,
fulge de repente, é quase tudo;
uma migalha sonora primeiro,
diminutivo de coração eleito,
a palavra,
formiga e mordica na minha cabeça,
bate intensa no meu peito,
aponta-me a mão requer tempo,
diz-se,
a maturação de um fruto
só folha verde na sombria árvore


um som calmo, ouço
eu quero-o assim, que luza
avance em verso, amadureça
e subtraia-se ao ruído à pressa
configure uma espera,
e traga o fruto, o veio, o sol,
descerre uma janela


vejo-a como uma joaninha,
insecto maravilhoso aos olhos de uma criança,
pousada no seu pulso, abrindo asas voando,
encontrei–te agora minha filha,
num puro abraço te apertando

José Ribeiro Marto