31 janeiro, 2009

A FLOR BRANCA DO DIA

a flor branca do dia
*
Por este Alentejo, o tradicional mar ondulante das searas está, agora, em plena maré baixa, pelo que não foi difícil à minha larga experiência de Contra-almirante, usando um sextante apropriado à situação, descobrir, no negrume de uma noite tempestuosa, este astro floral que me fez rumar, sem detença, para o dia 1 de Fevereiro, a fim de o assinalar com um fraterno e poético abraço!
António Simões

O JOGO DA VIDA

Camélia - fotografia e manipulação cromática de Augusto Mota.
Excertos do livro .delete.me. de Gabriela Rocha Martins.
*
Ainda bem que estes dados do jogo da vida estão viciados com as palavras do poeta: sendo todas as faces idênticas, ficamos sempre a ganhar! Seja para festejar o aniversário de uma amiga, seja para lhe desejar saúde e força contra os ventos adversos, que, tantas vezes, a querem impedir de levar por diante todos os projectos que a sua irrequieta imaginação lhe vai constantemente propondo, como reptos inadiáveis.

Um grande abraço de um Almirante que, quase perdido entre as vagas alterosas deste mar bravio do nosso «Litoral a Oeste», ainda conseguiu achar o rumo certo e registar no livro de bordo, para a posteridade, estas palavras um pouco tremidas pelo balancear da nau, mas interiormente firmes e sentidas! Augusto Mota

«Litoral a Oeste» é o titulo de um livro de contos de Loureiro Botas, onde o autor denuncia a vida difícil das gentes da Praia da Vieira de Leiria. Foi editado em 1940, em Lisboa, pela Portugália, sendo a 2ª edição de 1944, da mesma editora. Recentemente a Biblioteca de Instrução Popular de Vieira de Leiria, fez uma edição conjunta de «Litoral a Oeste» e «Frente ao Mar» (1944), com prefácio do Dr. Mário Soares. Tais edições antigas já só era possível encontrá-las em alfarrabistas.


PARABÉNS !

ao amanhecer os dias chegam atrasados...








... na noite balançando o nascimento
do poema.


gabriela rocha martins - in poem'arte
composição e tratamento gráfico das fotos - fernanda s.m.


Photobucket

JörgD.


em que tempo
em que lamento
em que aurora

re
adormece

o vento?

*


gabriela rocha martins

*
Parabéns!



(postado por Maria Costa)


ciclo virtuoso da vida

.
.
.
1. do rio depois das chuvas
.
.
.

brioso, bojudo, orgulhoso
da rapina de misérias
e relíquias
.
.
.

inteiro, intenso, farto, imenso
no desaguante destino
para a foz
.
.
.

brutal, incessante, incansável
prenho do perecível.
a caminho. virgem.
.
.
.

circular fecundação do oceano
.
.
.

refazer nascentes.
fazer-se em fonte.
.
.
.
.

maria toscano
em Coimbra, no Parque Verde, a 29 Janeiro/2009
( in sulmoura )

30 janeiro, 2009

AO OUVIR O MAR ATINGE-NOS

A MARIA AZENHA

Há pássaros pousados nos teus poemas
bandos sagrados são nua semente
florescem como dardos quando voam
Ouvem murmurar sem haver gente

Não estranho os rios de água
Correndo véus de palavras
Não estranho os pássaros
Não voam sozinhos na tua voz
Estranho-me eu e sou de horas
As horas de ouvir as horas sós

Voo contigo nesse pulsar do tempo
Perco-me e ausento-me da morte
Como um rio não vendido vivamente
Onde não assoma outro barco
Só brota uma guitarra levemente

Perdoa se um verso segue uma rima
Eu sigo só sei que estás no mar
E dás da água milenar
O assombro vivo numa pauta de escutar


JOSÉ RIBEIRO MARTO

um só dia para não escrever poesia



do projecto free poetry
nada se sabe
da cândida flor quase a cair do tecto
vistas as coisas por cima
só me lembro de quinta feira à noite com o sol a pino

não sei o que é escrever
não sei o que é um relógio
não sei o que é freeport
escrevo com os ponteiros dos olhos
apodrecidos e tristes

se pensam que isto é um poema
e que este poema com pontas de vidro
tem chapéus de chuva e luvas
enganam-se
este poema não é um poema
porque um poema não é um rebanho
se fosse um rebanho chamava-se Caeiro
e para que servem tantos pastores e tantas ovelhas
se caem tantas igrejas a torto e a direito?

lembrem-se do Dantas que cheirava mal
e dos Silvas e dos Pimbas e dos Sócras
( eu não disse Só-cra-tes estou em hibernação!)
e dos que dão cambalhotas para receber luvas
porque este ano fez muito frio

não há dúvida que uma luva combina mal com Pessoa
que escrevia ao luar com dez dedos
com a melancolia do chapéu preto
que lhe cobria os óculos
imaginem duas nada mais deprimente
às vezes levanto-me do chão porque me deram um soco

lembrem-se do Dantas que cheirava mal
e dos Silvas e dos Pimbas e dos Sócras
nós lidamos com eles
tão pequenos tão vias tão auto estradas
tão verdes
tudo isto como se eu fosse uma lata de lixo
nunca me tragam um poema servido com luvas

está assim criado o dia para não escrever poesia
hoje trinta de Janeiro de dois mil e nove


maria azenha

PRAISE SONG FOR THE DAY
*
Poem for Barack Obama's Presidential Inauguration

Each day we go about our business,
walking past each other, catching each other's
eyes or not, about to speak or speaking.

All about us is noise. All about us is
noise and bramble, thorn and din, each
one of our ancestors on our tongues.

Someone is stitching up a hem, darning
a hole in a uniform, patching a tire,
repairing the things in need of repair.

Someone is trying to make music somewhere,
with a pair of wooden spoons on an oil drum,
with cello, boom box, harmonica, voice.

A woman and her son wait for the bus.
A farmer considers the changing sky.
A teacher says, Take out your pencils. Begin.

We encounter each other in words, words
spiny or smooth, whispered or declaimed,
words to consider, reconsider.

We cross dirt roads and highways that mark
the will of some one and then others, who said
I need to see what's on the other side.

I know there's something better down the road.
We need to find a place where we are safe.
We walk into that which we cannot yet see.

Say it plain: that many have died for this day.
Sing the names of the dead who brought us here,
who laid the train tracks, raised the bridges,

picked the cotton and the lettuce, built
brick by brick the glittering edifices
they would then keep clean and work inside of.

Praise song for struggle, praise song for the day.
Praise song for every hand-lettered sign,
the figuring-it-out at kitchen tables.

Some live by love thy neighbor as thyself,
others by first do no harm or take no more
than you need. What if the mightiest word is love?

Love beyond marital, filial, national,
love that casts a widening pool of light,
love with no need to pre-empt grievance.

In today's sharp sparkle, this winter air,
any thing can be made, any sentence begun.
On the brink, on the brim, on the cusp,

praise song for walking forward in that light.
*
Elizabeth Alexander
*
Elizabeth Alexander
*
CANTO DE LOUVOR AO DIA
*
na tomada de posse do Presidente Barack Obama

Andamos todos os dias a tratar das nossas vidas,
cruzamo-nos uns com os outros, trocando ou não
olhares, quase a falarmos ou falando mesmo.

Há barulho à nossa volta. Em todo o lado há barulho
e plantas espinhosas, espinhos e ruídos insuportáveis,
os nossos antepassados presentes em nossas línguas.

Alguém arranja uma bainha, remenda
um buraco num uniforme, remenda um pneu,
arranja as coisas que precisam ser arranjadas.

Alguém tenta algures fazer música,
com um par de colheres de madeira num bidão de óleo,
com um violoncelo, caixa de ressonância, gaita de beiços, voz.

Uma mulher e seu filho estão à espera do autocarro.
Um fazendeiro observa o céu que anuncia mudança.
Um professor diz, Peguem nos vossos lápis. Comecem a trabalhar.

Encontramo-nos uns aos outros nas palavras, palavras
cobertas de espinhos, ou macias, segredadas ou declamadas,
palavras para considerar ou reconsiderar.

Atravessamos estradas poeirentas e auto-estradas que atestam
a vontade de alguém e de quaisquer outros que disseram,
Tenho de ver o que está do outro lado.

Sei que há qualquer coisa melhor lá mais adiante.
Precisamos de encontrar um lugar onde nos sintamos seguros.
Caminhamos para algo que ainda não conseguimos ver.

Digamos simplesmente: muitos deram a vida por este dia.
Cantai os nomes dos mortos que nos trouxeram até aqui,
os que colocaram linhas de caminho de ferro, ergueram pontes,

apanharam algodão e alface, construíram
tijolo a tijolo os edifícios reluzentes
que eles próprios manteriam limpos e onde trabalhariam.

Canto de louvor à luta, canto de louvor ao dia,
Canto de louvor a cada nota escrita à mão ,
imaginando-a sobre as mesas das cozinhas.

Alguns vivem pelo ama teu próximo como a ti mesmo, outros
pelo não faças mal a ninguém ou
não queiras mais do que
precisas
. Como não há-de ser assim, se o amor é a mais poderosa das palavras?

Amor para além do conjugal, filial, patriótico,
amor donde a luz jorra e alastra,
amor que não consente agravos antecipados.

Na nítida cintilação deste dia, neste ar de Inverno,
qualquer coisa pode ser feita, qualquer frase ser iniciada.
Mesmo perto, mesmo à beira, mesmo no ponto de viragem,

canto de louvor ao caminharmos em frente envoltos nessa luz.


Elizabeth Alexander


Tradução de António Simões, Janeiro 25, 2009

Elizabeth Alexander, foi convidada por Barack Obama para escrever o poema habitualmente lido nos últimos tempos na tomada de posse. Nasceu
em 1962, em Harlem, Nova Iorque, e cresceu em Washington, D.C.. A sua colectânea de versos mais recente foi finalista do Pulitzer Prize.

27 janeiro, 2009

26 janeiro, 2009

Os Dias Do Amor






Os dias do Amor
Um poema para cada dia do ano
365 poemas de amor escritos por 365 poetas de todos os tempos e de todos os lugares

Recolha, selecção e organização de: Inês Ramos
Prefácio de: Henrique Manuel Bento Fialho

N.º de páginas: 436
Editora: Ministério dos Livros

“Porque por amor enlouquecem os amantes, por amor se suicidam e matam (...), por amor o sacrifício, a entrega mística e a obstinação carnal, ou a entrega da carne e a obstinação mística, por amor os duelos reparados pela conciliação, por amor os territórios transfronteiriços, a abolição das fronteiras, o fim das dicotomias, por amor a paixão, por amor a morte, tudo isso num poema.”
Henrique Manuel Bento Fialho
(do Prefácio)

A primeira apresentação da Antologia de Poesia “Os dias do Amor – Um poema para cada dia do ano” vai ter lugar já no próximo dia 29 de Janeiro, na Fnac do Colombo, pelas 18h30m.Nesta sessão de apresentação haverá leitura de poemas da antologia por Maria do Céu Guerra, Álvaro Faria, Cristina Paiva, João Brás e Tiago Bensetil.

Estão agendadas outras apresentações nos seguintes dias e locais:
Porto: El Corte Inglés, 5 de Fevereiro, 19h30m
Viseu: Fnac Palácio do Gelo, 6 de Fevereiro, 21 horas
Faro: Livraria Pátio de Letras, 14 de Fevereiro, 17 horas
Évora: Bibliocafé Intensidez, 14 de Fevereiro, 21h30m



Lista dos autores que celebram o Amor nesta antologia (ordem alfabética):


Aaro Hellaakoski (Finlândia)
Adalberto Alves (Portugal)
Ady Endre (Hungria)
Affonso Romano de Sant'Anna (Brasil)
Agripina Costa Marques (Portugal)
Albano Martins (Portugal)
Albert Samain (França)
Alberto Augusto Miranda (Portugal)
Alberto Caeiro (Portugal)
Aleilton Fonseca (Brasil)
Alejandra Pizarnik (Argentina)
Alexandra Gil (Portugal)
Alexandra Rodrigues Malheiro (Portugal)
Alexandre Herculano (Portugal)
Alexandre Nave (Portugal)
Alexei Bueno (Brasil)
Alfonso Álvarez de Villasandino (Castela)
Alfredo Carvalhais (Portugal)
Alice Vieira (Portugal)
Almeida Garrett (Portugal)
Al-Mu’tamid (Alandalus)
Alphonsus de Guimaraens (Brasil)
Álvares de Azevedo (Brasil)
Álvaro de Campos (Portugal)
Amadeu Baptista (Portugal)
Amélia Vieira (Portugal)
Américo Teixeira Moreira (Portugal)
Amy Lowell (EUA)
Ana de Sousa (Portugal)
Ana Francisco (Portugal)
Ana Hatherly (Portugal)
Ana Luísa Amaral (Portugal)
Ana Marques Gastão (Portugal)
Ana Paula Tavares (Angola)
Ana Salomé (Portugal)
Ana Viana (Portugal)
Andrej Morsztyn (Polónia)
Andrew Marvell (Reino Unido)
Anne Bradstreet (Reino Unido)
Anónimo (Índia)
Anónimo (Portugal)
Anónimo (Portugal)
Antero de Quental (Portugal)
António Barbosa Bacelar (Portugal)
António Cabrita (Portugal)
António Dinis da Cruz (Portugal)
António Feijó (Portugal)
António Feliciano de Castilho (Portugal)
António Ferra (Portugal)
António Ferreira (Portugal)
António José Queirós (Portugal)
António Ladeira (Portugal)
António Nobre (Portugal)
António Osório (Portugal)
António Patrício (Portugal)
António Ramos Rosa (Portugal)
António Salvado (Portugal)
António Sardinha (Portugal)
Armando Silva Carvalho (Portugal)
Arthur Rimbaud (França)
Augusto Gil (Portugal)
Aurelino Costa (Portugal)
Bai Juyi (China)
Balassi Bálint (Hungria)
Bashô (Japão)
Beatriz Barroso (Portugal)
Ben Jonson (Reino Unido)
Bernardete Costa (Portugal)
Bernardim Ribeiro (Portugal)
Bernardino Lopes (Brasil)
Bernardo de Passos (Portugal)
Bíon (Grécia)
Bocage (Portugal)
Caetano de Costa Alegre (São Tomé)
Camilo Castelo Branco (Portugal)
Camilo Mota (Brasil)
Camilo Pessanha (Portugal)
Campos d’Oliveira (Moçambique)
Campos Monteiro (Portugal)
Carlos César Pacheco (Portugal)
Carlos Garcia de Castro (Portugal)
Carlos Machado (Brasil)
Carlos Vaz (Portugal)
Casimiro de Abreu (Brasil)
Casimiro de Brito (Portugal)
Castro Alves (Brasil)
Catarina de Lencastre (Portugal)
Cesário Verde (Portugal)
Christina Georgina Rossetti (Reino Unido)
Christopher Marlowe (Reino Unido)
Claudio Daniel (Brasil)
Conde do Vimioso (Portugal)
Cristina Maria da Costa (Portugal)
Cristóvão Falcão (Portugal)
Cruz e Sousa (Brasil)
Csokonai Vitéz Mihály (Hungria)
D. Afonso Sanches (Portugal)
D. Dinis (Portugal)
D. Francisco Manuel de Melo (Portugal)
D. Sancho I (Portugal)
Dama Kasa (Japão)
Dama Otomo no Sakanoe (Japão)
Daniel Camacho (Portugal)
Daniel Faria (Portugal)
Daniel Gonçalves (Portugal)
Daniel Maia-Pinto Rodrigues (Portugal)
Dante Alighieri (Florença)
Décimo Magno Ausónio (Gália)
Delfim Guimarães (Portugal)
Diego Armés (Portugal)
Diogo Bernardes (Portugal)
Diogo Brandão (Portugal)
Domingos dos Reis Quita (Portugal)
Donizete Galvão (Brasil)
E. M. de Melo e Castro (Portugal)
Edgar Allan Poe (EUA)
Edimilson de Almeida Pereira (Brasil)
Edith Goel (Israel)
Edith Södergran (Finlândia)
Edmund Spenser (Reino Unido)
Eduarda Chiote (Portugal)
Eduardo M. Raposo (Portugal)
Eduíno de Jesus (Portugal)
Eeva Kilpi (Finlândia)
Egito Gonçalves (Portugal)
Emily Dickinson (EUA)
Ésio Macedo Ribeiro (Brasil)
Eugénio Tavares (Cabo Verde)
Eunice Arruda (Brasil)
Fernando Aguiar (Portugal)
Fernando Cabrita (Portugal)
Fernando de Castro Branco (Portugal)
Fernando Esteves Pinto (Portugal)
Fernando Fábio Fiorese Furtado (Brasil)
Fernando Grade (Portugal)
Fernando Pessoa (Portugal)
Fernando Pinto do Amaral (Portugal)
Fernando Pinto Ribeiro (Portugal)
Fernando Ribeiro (Portugal)
Fiama Hasse Pais Brandão (Portugal)
Filinto Elísio (Portugal)
Firmino Mendes (Portugal)
Florbela Espanca (Portugal)
Francesco Petrarca (Toscânia)
Francisco de Quevedo (Espanha)
Francisco de Vasconcelos (Portugal)
Francisco José Viegas (Portugal)
Francisco Rodrigues Lobo (Portugal)
Frederico Barbosa (Brasil)
Frederico Hartley (Portugal)
Friedrich Gottlieb Klopstock (Alemanha)
Friedrich Hölderlin (Alemanha)
Fugiwara no Toshiyuki (Japão)
Fujiwara no Orikase (Japão)
Gabriela Rocha Martins (Portugal)
Gaio Valério Catulo (Roma)
Gastão Cruz (Portugal)
George Herbert (Reino Unido)
Geraldo Reis (Brasil)
Gerson Valle (Brasil)
Giacomo da Lentino (Sicília)
Gil Vicente (Portugal)
Golgona Anghel (Roménia)
Gomes Leal (Portugal)
Gonçalo Salvado (Portugal)
Gonçalves Crespo (Brasil)
Gonçalves Dias (Brasil)
Graça Magalhães (Portugal)
Gregório de Matos (Brasil)
Guerra Junqueiro (Portugal)
Guilherme Braga (Portugal)
Guilherme de Faria (Portugal)
Guillaume Apollinaire (Itália)
Hannes Pétursson (Islândia)
Henrique Lopes de Mendonça (Portugal)
Henrique Manuel Bento Fialho (Portugal)
Iacyr Anderson Freitas (Brasil)
Ibn ‘Ammar (Alandalus)
Ibn ‘Arabi (Alandalus)
Ibn Hazm (Alandalus)
Ibn Safar Al-Marini (Alandalus)
Ibn Zaydûn (Alandalus)
Imperatriz Yamatohima (Japão)
Inês Lourenço (Portugal)
Inma Luna (Espanha)
Isabel Cristina Pires (Portugal)
Isabel Mendes Ferreira (Portugal)
Ivo Barroso (Brasil)
Ivo Machado (Portugal)
Izumi-Shikibu (Japão)
Janus Pannonius (Hungria)
Jerónimo Baía (Portugal)
Joana da Gama (Portugal)
Joana Roque Lino (Portugal)
Joana Serrado (Portugal)
João Airas (Galiza)
João de Deus (Portugal)
João de Lemos (Portugal)
João Garção (Portugal)
João Lobeira (Portugal)
João Lúcio (Portugal)
João Manuel Ribeiro (Portugal)
João Penha (Portugal)
João Ricardo Lopes (Portugal)
João Rico (Portugal)
João Roiz de Castelo Branco (Portugal)
João Rui de Sousa (Portugal)
Joaquim Alves (Portugal)
Joaquim Cardoso Dias (Portugal)
Joaquim Cordeiro da Mata (Angola)
Joaquim Evónio (Portugal)
John Clare (Reino Unido)
John Donne (Reino Unido)
Jorge Casimiro (Portugal)
Jorge Reis-Sá (Portugal)
Jorge Sousa Braga (Portugal)
Jorge Velhote (Portugal)
José Agostinho Baptista (Portugal)
José Alberto Mar (Portugal)
José Anastácio da Cunha (Portugal)
José Carlos Barros (Portugal)
José Carrilho Raposo (Portugal)
José da Fonte Santa (Portugal)
José do Carmo Francisco (Portugal)
José Emílio-Nelson (Portugal)
José Félix Duque (Portugal)
José Luís Peixoto (Portugal)
José Manuel de Vasconcelos (Portugal)
José Mário Silva (Portugal)
José Miguel de Oliveira (Portugal)
José Rui Teixeira (Portugal)
József Attila (Hungria)
Judith Teixeira (Portugal)
Julião Bernardes (Portugal)
Kakinomoto no Hitomaro (Japão)
Kouo Yu (China)
Lassi Nummi (Finlândia)
Laureano Silveira (Portugal)
Leonilda Cavaco Alfarrobinha (Portugal)
Lety Elvir (Honduras)
Li Bai (China)
Lívia Tucci (Brasil)
Lord Byron (Reino Unido)
Luís Brito Pedroso (Portugal)
Luís de Camões (Portugal)
Luís de Miranda Rocha (Portugal)
Luís Filipe Cristóvão (Portugal)
Luís Lima (Portugal)
Mafalda Chambel (Portugal)
Manuel Alegre (Portugal)
Manuel Anastácio (Portugal)
Manuel Botelho de Oliveira (Brasil)
Manuel da Silva Gaio (Portugal)
Manuel Duarte de Almeida (Portugal)
Manuel Laranjeira (Portugal)
Manuel Moya (Espanha)
Manuel Neto dos Santos (Portugal)
Maria Costa (Portugal)
Maria Estela Guedes (Portugal)
Maria Helena Ventura (Portugal)
Maria João Fernandes (Portugal)
Maria José Lascas Fernandes (Portugal)
Maria O'Neill (Portugal)
Maria Teresa Horta (Portugal)
Mariana Angélica Andrade (Portugal)
Mário Castrim (Portugal)
Mário de Sá-Carneiro (Portugal)
Mário Lisboa Duarte (Portugal)
Mário Machado Fraião (Portugal)
Marquesa de Alorna (Portugal)
Martim Codax (Galiza)
Matthías Jóhannessen (Islândia)
Michael Drayton (Reino Unido)
Michelangelo Buonarroti (Toscânia)
Miguel d’Azur (Portugal)
Miguel Florián (Espanha)
Miguel Godinho (Portugal)
Miguel Martins (Portugal)
Mihai Eminescu (Roménia)
Murasaki-Shikibu (Japão)
Myriam Jubilot de Carvalho (Portugal)
Natércia Freire (Portugal)
Nicolau Saião (Portugal)
Nína Björk Árnadóttir (Islândia)
Nuno Fernandes Torneol (Castela)
Nuno Júdice (Portugal)
Nuno Rebocho (Portugal)
Olavo Bilac (Brasil)
Olivier de Magny (França)
Omar Khayyam (Pérsia)
Otília Martel (Portugal)
Ozias Filho (Brasil)
Paio Soares Taveirós (Portugal)
Paula Cristina Costa (Portugal)
Paulinho Assunção (Brasil)
Paulino de Oliveira (Portugal)
Paulo Ferraz (Brasil)
Paulo Ferreira Borges (Portugal)
Paulo Ramalho (Portugal)
Pedro Afonso (Portugal)
Pedro António Correia Garção (Portugal)
Pedro Gil-Pedro (Portugal)
Pedro Sena-Lino (Portugal)
Pêro de Andrade Caminha (Portugal)
Pero Gonçalves de Portocarreiro (Portugal)
Pero Meogo (Galiza)
Petofi Sándor (Hungria)
Philip Sidney (Reino Unido)
Pierre de Ronsard (França)
Prisca Agustoni (Brasil)
Propércio (Roma)
Queirós Ribeiro (Portugal)
Raquel Lacerda (Portugal)
Regina Gouveia (Portugal)
Ricardo Reis (Portugal)
Robert Burns (Reino Unido)
Rodrigo Eanes Redondo (Portugal)
Ronaldo Cagiano (Brasil)
Rosa Alice Branco (Portugal)
Rui Almeida (Portugal)
Rui Brás (Portugal)
Rui Caeiro (Portugal)
Rui Costa (Portugal)
Rui Diniz (Portugal)
Rui Gonçalves (Portugal)
Rute Mota (Portugal)
Ruy Ventura (Portugal)
S. João da Cruz (Espanha)
Sá de Miranda (Portugal)
Sa'adi (Pérsia)
Safo (Grécia)
Salomão (Israel)
Salvador Rueda (Espanha)
Sérgio Godinho (Portugal)
Sérgio Peña (México)
Silva Palma (Portugal)
Soares dos Passos (Portugal)
Soror Madalena da Glória (Portugal)
Soror Mariana Alcoforado (Portugal)
Soror Violante do Céu (Portugal)
Tchang Chouai (China)
Teresa Tudela (Portugal)
Thorkild Bjørnvig (Dinamarca)
Tiago Araújo (Portugal)
Tiago Nené (Portugal)
Tomás António Gonzaga (Portugal)
Tomás Ribeiro (Portugal)
Torquato da Luz (Portugal)
Torquato Tasso (Itália)
Tradição oral (Arábia)
Tua Forsström (Finlândia)
Uberto Stabile (Espanha)
Vasco Graça-Moura (Portugal)
Vera Lúcia de Oliveira (Brasil)
Vergílio Alberto Vieira (Portugal)
Victor Oliveira Mateus (Portugal)
Vítor Oliveira Jorge (Portugal)
Vladímir Maiakovski (Rússia)
Vörösmarty Mihály (Hungria)
Walter Raleigh (Reino Unido)
Wang Wei (China)
William Shakespeare (Reino Unido)
Yamabe no Akahito (Japão)
Yehudá Ha-Leví (Navarra)
Zhang Kejiu (China)




25 janeiro, 2009

TO ALL MY FRIENDS


Read and enjoy history in the making,
enjoy this day, the beauty of the words
the millions of people marchinhg along a new avenue ,
larger and longer than Pennsylvania,
opened by Obama's strong commitment ,
for the hope in a new world, in the togetherness of love and joy,
because a new era has just begun,
and all of us have been called by this brilliant, warm-hearted man
to do our duty to achieve the old still unfulfilled dream of mankind
of living in peace all over the world
and inside each of us.

Tears ran down my cheeks
as I was watching him speak and a sweet warmth wrapped my heart .
All of a sudden,I felt I was an enormous being
touching the skies with my wide open arms,
my legs standing apart
strongly placed on today's hard soil of fear and discomfort.
Then, from the bottom of my soul,
where permanently a river runs
through a green valley,
from the roots of flowery beds,
first only a murmur,
then gradually growing to a deafening cry
of despair and hope,
I cried and my cry echoed through all the universe:
YES WE CAN.
WE CAN CHANGE OURSELVES AND CHANGE THE WORLD
The time is now.
Tomorrow will be too late.

Outside my window, as I write these words,
on a cold Winter morning,
in a quiet little town,
amid the plains of Portugal's Alentejo,
I heard what sounded like the soft wings of the sun
tapping on the window pane.
But it was just Elizabeth Alexander's hand
stretching through the glass.
pulling and leading me
to the kingdom of light.
I hope I'll soon hear
your footsteps
going the same way.

ANTÓNIO SIMÕES, Estremoz, 21 de Janeiro, 2009.

Versão portuguesa do poema anterior feita pelo próprio
autor, que o escreveu originalmente em língua inglesa:



Lê e aprecia o acontecer da história.
Aprecia este dia, a beleza das palavras,
Os milhões de pessoas marchando
ao longo de uma nova avenida,
maior e mais comprida do que a de Pensilvânia
e que foi aberta pelo forte compromisso de Obama
na esperança de um mundo novo,
na conjunção da alegria e do amor,
porque uma nova era acaba de nascer
e todos nós fomos convocados
por este homem brilhante e caloroso
para cumprirmos o nosso dever de alcançarmos
o sonho da humanidade que está por realizar,
de vivermos em paz por todo o mundo
e dentro de cada um de nós.

As lágrimas corriam-me pelas faces
enquanto o ouvia, e um doce calor
envolvia-me o coração.
Subitamente, senti-me como se eu fosse um ser gigantesco,
tocando os céus com os meus braços bem abertos,
as pernas afastadas,
firmemente plantadas no chão duro
do medo e do desconforto dos nossos dias.
Eis que, do fundo de minha alma,
onde corre em permanência um rio
através de um vale verde,
das raízes dos canteiros floridos,
primeiro, um murmúrio apenas
depois, a pouco e pouco
tornando-se um grito ensurdecedor
de desespero e esperança,
eu gritei, e o meu grito ecoou através de todo o universo:
SIM, NÓS PODEMOS.
NÓS PODEMOS MUDARMO-NOS A NÓS MESMOS
E MUDAR O MUNDO.
A hora chegou.
Amanhã será tarde demais.

Lá fora, na minha janela, enquanto escrevo estas palavras,
numa fria manhã de Inverno,
numa cidadezinha tranquila
no meio da planície alentejana ,
ouço o que parecia ser o suave bater de asas do sol.
Mas era afinal a mão de Elizabeth Alexander
estendida através da vidraça,
puxando por mim para me conduzir
para o reino da luz.
Espero poder em breve sentir
os vossos passos
seguindo na mesma direcção.

ANTÓNIO SIMÕES, Estremoz, 22 de Janeiro, 2009

Foto de Barack Obama obtida na Net. Arranjo gráfico de Augusto Mota.

24 janeiro, 2009

Sombras com Mãos / What a wonderfull world"


.
(por maria toscano)

O Mar Atinge-nos em CD



Photobucket



Photobucket



  • “O Mar Atinge-nos” é a voz urbana do mar, eco das grandes ausências na geografia dos náufragos, em cidades de betão.
    É a viagem das guitarras fazendo-se à cerimónia da voz, a palavra na memória da poesia lusitana.


    Maria Azenha nasceu em Coimbra .
    Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra .
    Exerceu funções docentes nas Universidades de Coimbra, Évora e Lisboa.
    Exerceu actividade docente na Escola de Ensino Artístico António Arroio.
    Escritora. Membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE) .


Já disponível em:

(clicar)

omaratinge.nos@gmail.com

FNAC - Maria Azenha

encomendas@metrosom.web.pt




(colocado por maria costa)

22 janeiro, 2009

AVE-PÂNICA

Ave-sentinela
*
Augusto Mota - «Ave-Pânica», 1960, desenho a tinta da china, 30 x 49 cm.
(fundo obtido com café e tinta-da-china, projectados com spray soprado)
*
A silhueta pânica desta ave-sentinela vigia, intimidante, um horizonte agressivo, mas, qual pomba redentora, um dia nos elevará, em suas garras circenses, deste ambiente concentracionário em que sentimos definhar o corpo da imaginação!...
*
Augusto Mota, 22 Janeiro 2009

22 de Janeiro de 2009


sei que o Almirante se vai zangar comigo por ter retirado as legendas ao slide.show ,mas hoje ,neste dia muito especial ,o enfoque vai para o trabalho que desenvolveu na selecção e composição gráfica, cujo resultado é esta pequena maravilha que editou
parabéns Almirante!

gabriela r martins

a filha do sol

criança3


Photobucket


criança 1

19 janeiro, 2009

condição

Augusto Mota - «Reabilitando a máquina de sombras»
Pintura a guache e tinta da china, 38,5 x 32 cm,1960.

deixemos no alguidar das mãos as palavras
nada é possível escrever
o espaço é uma grande máquina de sombras e
o poema uma miragem de letras
não sei o que é estar fora de ti
não posso escrever os meus gritos
no ofício cantante das magnólias
não escrevo luz

imagino - te um barco de diferentes maneiras e
caímos do alto de uma montanha

entrego todos os beijos ao campo quântico



maria azenha


18 janeiro, 2009

o vazio





assumo o vazio de um texto
digno de génios

















fotografias de rattus.

17 janeiro, 2009

Declaro-te um rio

Relvado do jardim protegido do granizo pela copa de uma
conífera ornamental do género Chamaecyparis.
Foto: Augusto Mota

Esta é a neve maior
e eu chamo.
Declaro te
pássaro que me invade
como relâmpago
desarrumo estrelas nos olhos
onde flutuam sais de fogo,
como quem vê passar
um êxtase de silêncio
um traço de pele
unindo as mãos ao corpo
a boca ao interior dos lábios
o céu dentro de um vestido
flutuam indícios sobre o peito
desarma-se a tremura
nessa forma sublime
Um rio
Intensíssimo de bátegas
onde tudo acontece
fitas coloridas
vermelho ardente
o fascínio da pedra
onde se grita
um ponto de luz.

Graça Magalhães

15 janeiro, 2009

poesia visual . fractais



fotografias de autores não identificados
edição de gabriela rocha martins

ode a Fernando Pessoa



Tu que tiveste o sonho de ser a voz de Portugal
tu foste de verdade a voz de Portugal
e não foste tu!
Foste de verdade, não de feito, a voz de Portugal.
De verdade e de feito só não foste tu.
A Portugal, a voz vem-lhe sempre
depois da idade
e tu quiseste aceitar-lhe a voz com a idade
e aqui erraste tu,
não a tua voz de Portugal
não a idade que já era hoje.
Tu foste apenas o teu sonho de ser a voz
de Portugal
o teu sonho de ti
o teu sonho dos portugueses
só sonhado por ti.
Tu sonhaste a continuação do sonho português
somados todos os séculos de Portugal
somados todos os vários sonhos portugueses
tu sonhaste a decifração final
do sonho de Portugal
e a vida que desperta depois do sonho
a vida que o sonho predisse.
Tu tiveste o sonho de ser a voz de Portugal
tu foste de verdade a voz de Portugal
e não foste tu!
Tu ficaste para depois
e Portugal também.
Tu levaste empunhada no teu sonho
a bandeira de Portugal
vertical
sem pender pra nenhum lado
o que não é dado pra portugueses.
Ninguém viu em ti, Fernando,
senão a pessoa que leva uma bandeira
e sem a justificação de ter havido festa.
Nesta nossa querida terra onde ninguém
a ninguém admira
e todos a determinados idolatram.
Foi substituído Portugal pelo nacionalismo
que é a maneira de acabar com os partidos
e de ficar talvez partido de Portugal!
mas não ainda talvez Portugal!



Portugal fica para depois
e os portugueses também
como tu.


José de Almada Negreiros
(ilha de s.Tomé, 1893-1970)

14 janeiro, 2009

12 janeiro, 2009

Dóis-me

Buganvília (Bougainvillea spectabilis) - foto de Augusto Mota
.
dóis-me quando soluças um mar vago negro de sussuro
um sol de buganvílias descendo num beiral ou muro
um canto lento piado dos pássaros de companhia
não vem pela luz conhecer as horas cantar o dia

dóis-me na hora em que passa o metropolitano
com gente pendurada nos sacos a caminho das repartições
com um sorriso esquecido ou morto nos bolsos
com um canto de ouro entre os dedos
e uma navalha de linho acesa num jeito de procissões


dóis-me por segundos muitos minutos muitas horas
dóis-me quando murmuras cobras gastos ao tempo ´
e por dentro um lobo uiva lamentos e faminto
estuda mapas corre ventos analisa usurpações

dois-me estás só
és sensível ao privilégio de deuses e senhores
sorris pelos teus direitos que vivem esquecidos
entregas de riso falho uns cuidados de penhores
sabes que um silêncio de morte te ameaça entre os vivos

e o que é vivo é pouco
talvez as pombas da cidade irradiando asas brilho
talvez uma mulher sonolenta e de voz áspera
te assista no cômputo da idade

dóis –me pelo clarão de luz à noite na cidade
pelas sombras dos monumentos pelo eco dos passos de caminho
por um comboio malquisto repetindo percursos
alguém escultando bolsos haveres menores gestos inconclusos

a cidade cresce com a dor que te aquece
sabe-se vento podre rio de lixo combinação de números
galgos sinais de luxo avareza sombria e de porte vazio

dóis-me não conheces as rotas da cidade o seu peso de metal e ferro
as árvores de rios verdes incendiadas de gelo
augurando primaveras e tu vais com o teu sorriso de peixe na água
os teus olhos a coberto de umas velas

o tempo é uma miríade de hieróglifos
pousados no teu rosto indecifrável sem anjos de salvação
sem uma queda de água de uma buganvília florescendo
nas mãos por que é Setembro
um mês de sépia no deserto dos teus cuidado

JOSÉ RIBEIRO MARTO

O Ovo e a Galinha de Clarice Lispector

11 janeiro, 2009

é por isso que estamos todos

Fungo poliporáceo (Piptoporus betulinus) - foto Augusto Mota

e se fez ao mar das eleições com seus barquitos
barqueiros barcarolas e malditos
em dias de recessão e a pátria mínima
não obstante o magalhães p`ros pequenitos

- ó petiz! passa-me o rato,
quero ver a chuva cair dentro de ti!

a cidade não é mais para ninguém
a não ser para o parlavento
não sou hórus nem ísis nem osíris
não combinei nada com o BES
nem com cristo nem com o cezariny
nem lanço redes de pesca ao arco íris

neva de alto a baixo no meu país
está muito frio no coração do Tejo

só sei que nada sei disseram-te
e é por isso que estamos todos
com uma rosa morta diante dos olhos



maria azenha



07 janeiro, 2009

TEXTO TRANSVERSAL

textos transversais 73

FOTOPOEMA

Photobucket
Poema e foto: António Simões / Arranjo gráfico: Augusto Mota

poema das mil mãos

Aqui a sombra do céu é de sangue
e as nuvens infectadas por negros arcanjos.
A morte legou os seus últimos resíduos
e mil homens se levantam do aroma da noite.

Escreveremos ainda o poema das mil mãos
em bandeiras de Paz
no peito dos meninos que não viram o sol.

A menos que nos roubem o ar e o fogo e a água
partiremos em busca das humildes mães de Gaza.


maria azenha

05 janeiro, 2009

DE REPENTE

na casa da minha infância ouço passos de anos
cá dentro espreitam as janelas as árvores e um balouço
a dar à corda com a tábua do assento
para lá e para cá
numa mingua qualquer de vento

não sei olhar senão por um olhar fundo de câmara lenta
sentindo o calor das sombras de hastes inseguras
sentindo as árvores folheando ao tempo

só o silêncio pressinto

nem um cão ladra não há passagem de ninguém
nem de outro bicho ou de outra gente

mas há uma fotografia que se completa tão longe
tão nítida na folhagem do arvoredo doce de descanso
chego a mim e não dou pelo meu rosto

inclinado para o passado com uma trégua com o movimento escrito
com os meus olhos perdidos no balouço
ainda ouço um grito um enorme grito de espanto
eu ando e vagueio por aí e estou distante


José Ribeiro Marto

04 janeiro, 2009

fotografia de John Kolesidis ( Reuters)

photo by John Kolesidis





Os mortos já não precisam de política
porque a política dos mortos
é terem morrido por uma política.

Esta política é para os vivos.


Carlos Cardoso

( Moçambique, 1951/ 2000)

03 janeiro, 2009

A águia derramando asas sobre a terra

1

a águia fere de voo o ar

está cativa no Inverno



a águia ferra o ar

anda ferida a planar



a águia expulsa o sol

anda voando no desterro



a águia no brilho do sol

baila suspensa



a águia traz luto no voo

não anda perdida acena



2

o sol é errante e esculpe esferas

traz desalinho ao voo



a águia de fuzil nos olhos

ergue-se a planar o mundo

ninguém está só



os destroços vão caindo

o mundo espera

a águia derramada sobre a terra



eu sei

não são as florescentes pombas

são bombas



chora uma criança entre o fumo

pede água

plana a águia derramando asas sobre a terra



José Ribeiro Marto

Rumo


Photobucket

Jutta Schär



A solidão
segue agora o seu caminho
sem nós.


Gonçalo Salvado


A PROPÓSITO DE POESIA INÚTIL

foto de Augusto Mota


Uma página de LABIRINTO LÓGICO
(a propósito de poesia inútil)


Na poesia tudo é permitido se o poeta se sabe, de verdade, integrado na sua época e tem para com o tempo a lucidez suficiente e necessária. Efectivamente, se não consegue ser temporal, não é actual, pois não interessa poesia intemporal de génios universais, mas sim poetas instrumentos de uma evolução mutável e localizada, que na localização compreendida como universalidade no campo do humano reside o verdadeiro génio.
Que um poeta morra com o seu tempo, mas que tenha contribuído para construir os alicerces sãos da sua época. Que maior utilidade na criação?
Escrever é fácil, tão fácil como beber, como amar ou como passear. Fácil, porque indispensável à vida completa, porque membro de um corpo que só se atinge sendo completamente lutador. E o poeta tem de ser lutador para ter interesse.
Vamos pois até à medula, destruamos, se necessário, os palácios mentais que nos precederam, mas, sobretudo, vivamos livres como a magnífica matemática das estrelas: da vida.
E não é difícil ser actual, simplesmente, esta posição implica mais do que o conhecimento imediato social e do que a vontade de ser actual. É indispensável saber-se modificar o meio até ele próprio estar de acordo com a realidade justa. O habitual não é óbice à evolução-revolução, pelo contrário, é instrumento que a favorece.
Assim, o poeta pode satisfazer ao «meio» poético, sem que por isso necessite de se ausentar (ainda que a diversão esteja na moda).
Não podemos pois aceitar a inutilidade na poesia, a não ser que sejamos inúteis.

António Augusto Menano
in página literária "Pinhal Novo" 7, «Região de Leiria», 19 de Julho, 1962

MURMÚR(I)OS

Foto de Carlos Fernandes
Murmúr(i)os

De pedra, cimento armado, arame farpado ou rede electrificada, ergue-os a infâmia de quem mais pode, impedindo a passagem a quem mais precisa, contra o Direito e a Humanidade. Muros. Murros no estômago dos desventurados, a quem apenas se ouvem débeis murmúrios.
O de Berlim caíu enfim. Outros se vão, a pouco e pouco, desmoronando. Mas, todos os dias, outros se vão edificando. Na Cisjordânia, no Sahara ocidental, na fronteira sul norte-americana ou nas profundezas de todo o homem que queira vedar o passo a outro homem.
Muros, murros, murmúrios...

Passa o vento leste
P'la cidade amuralhada
E não quer entrar

É na planície sem muros
Que mais gosta de dançar

Carlos A. Silva
2 Janeiro 2009