28 julho, 2008
26 julho, 2008
25 julho, 2008
24 julho, 2008
Homenagem a Maria Helena Vieira da Silva
A Mostra, que estará patente ao público até ao dia 6 de Setembro, exibe obras de: Alcina Marques de Almeida, Alice Romano, Álvaro Simões, Carlos Clérigo, Eduardo da Conceição, Eduardo Gil, Eduardo Mendes, Fernando Cosme, Graça Patrão, Joaquim Batista, Josefa Reis, Liliana Barata, Patrícia Roque, Rui Matos, Sónia Santos e Victor Costa.
Maria Helena VIEIRA DA SILVA (1908-1992), pintora de origem portuguesa, nasceu em Lisboa, no seio de uma família que cedo estimulou o seu interesse pela pintura, pela leitura e pela música. Em 1928 vai para Paris onde estuda escultura, optando definitivamente pela pintura em 1929. Em 1930 casa-se com o pintor húngaro, Arpad Szenes. Pintora de temas essencialmente urbanos, a sua pintura revela, desde muito cedo, uma preocupação com o espaço e a profundidade. Vive no Brasil de 1940 a 1947. A sua pintura desse período reflecte a angústia da guerra. Depois do seu regresso a Paris, na década de 50, participa em inúmeras exposições em França e no estrangeiro. Em 1956 obtém a nacionalidade francesa. O estado francês adquire obras suas a partir de 1948 e em 1960 atribui-lhe a primeira de várias condecorações. A partir de 1958, organizam-se retrospectivas da sua obra e são-lhe concedidos importantes prémios internacionais. Em Portugal, a Fundação Calouste Gulbenkian apresenta a sua obra em 1970, 1977 e 1988. Em 1983, o Metropolitano de Lisboa propõe-lhe a decoração da estação da Cidade Universitária; a obra Le métro (1940) é reproduzida em azulejos com a colaboração do pintor Manuel Cargaleiro. Em 1994, é lançado o Catálogo Raisonné da sua obra. Pintora da Segunda Escola de Paris, Vieira da Silva teve um importante papel no panorama da arte internacional.
Texto: Fundação Arpad Szenes. [Enviado por Rui Mendes ]
23 julho, 2008
A felicidade exige valentia
"'Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não
esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela
vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...'"
Fernando Pessoa - 120 anos
[ Enviado por Rui Mendes].
22 julho, 2008
TEJO
..............................Aqui ainda é o Tejo dos salgueiros
..............................um rio manso sem navios nem gaivotas à ré
..............................aqui o Tejo é de avieiros
..............................mar de fingir a serenidade as fúrias da maré
..............................Aqui o Tejo é uma estrada de peixes soterrados
..............................um ignoto rio romântico e louco entrando pelas casas
..............................com cabelos ardidos sob um leito de estios
..............................e ilhas de suor que se escondem na bruma
..............................onde os pássaros inscrevem a rota dos naufrágios
..............................Aqui o Tejo não sabe a fala do mar nem de outros rios
..............................é apenas um rio ágil e vago que vai soturnamente
..............................desbravando os limites de ser espelho de margens
..............................estorninho perdido nas monções do vento
..............................um mapa desenhado com marés de lágrimas
..............................rio bilingue aberto à desmesura das palavras ocultas
..............................à construção do sonho
..............................do porto onde o corpo encontre leito
..............................para estender a sombra
..............................e a interminável ilusão do sangue triunfal
puro prazer das línguas misturadas
DOMINGOS LOBO
21 julho, 2008
Canção
oh terra oh mar oh vento
se alguém a viu sozinha
diga-lhe que nunca partiu
oh chão oh água oh vento
se o amor me chamar
lavrem seu nome no tempo
viva eu sempre a doar
oh erva do valado oh rosa do rio
dêem-me o perfume dos campos
não mantenham no resguardo
tragam-me o meu amor que partiu
oh sol oh terra oh mar
como é o meu voar
se o meu amor partiu
e nem do sol se despediu
oh sol de brilho quente
tão fresco à tardinha
dá-me uma pedra quente
do lume só á noitinha
José Ribeiro Marto , in canções
20 julho, 2008
Bons Amigos
Abençoados os que possuem amigos,
os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede,
... não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!
Benditos os que sofrem por amigos,
os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala,
não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!
Benditos os que guardam amigos,
os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!
Benditos sejam os amigos que
acreditam na tua verdade
ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!
Benditos sejam todos os amigos
de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros
... da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!
Há pessoas que choram por saber
... que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber
... que os espinhos têm rosas!
Poema de Machado de Assis,
imagem de Ali Cavanaugh.
Enviado por Amélia Pais
http://barcosflores.blogspot.com
http://cristalina.multiply.com
19 julho, 2008
Ó PEDRA QUE ESTÁS PARADA
Onde estão tuas raízes?
Mas ficas sempre calada,
Ó pedra, e nada me dizes.
Por que não voas então?
Que te impede de voar?
Se fosses meu coração,
Voavas solta no ar,
Como voa o pensamento
Que vai para onde quer.
Fosses tu irmã do vento,
Serias minha mulher –
E eu casava contigo
Fazia o que sempre quis,
Como amante, como amigo:
Ser para sempre feliz.
Na solidez do teu corpo –
Ser um a soma dos dois,
Habitar-te como um todo,
(As asas vinham depois).
Com a minha fantasia,
Teríamos aéreo lar –
A gente depois vivia
Só do sonho de voar.
poema inédito de António Simões, 2001, do ciclo "poemas com pedras dentro".
18 julho, 2008
Se eu pudesse
Ò vida de mil faces transbordante
Para poder responder aos teus convites
Suspensos nas surpresas dos instantes
Sophia
»Para a minha alma eu queria uma torre como esta assim alta acompanhando o rio»
J.Sena
se pudesse eu pedia nesta hora
em que o melro silva lá fora e me traz repentinas
asas pretas a luz do bico amarelo e das casas
silhuetas
que se abatem sobre mim eu sem remédio
asas do fim do Outono pospondo hora a hora
a garra incerta do temor em que por teu coração
eu me leio e me creio numa torre de instantes
essa em que te metamorfoseio acompanhando o rio
essa torre muito alta
só com a tua face enxuta de limos
onde eu pudesse ser-te mais do que um triste destino
In,à janela » a celebração dos dias»
José Ribeiro Marto
17 julho, 2008
Nos dias inventar
a baía das estrelas
as ramagens do corpo
nos poros de cetim
as catedrais com forro de areia
nos dias partilhar jardins
apertar a cal contra o peito
como se reescrevesse
o sal eterno no meu sangue
onde morreste e estás inteiro
partilhar a chuva dentro das pálpebras
o musgo das muralhas
adormecendo um xaile de canções
mães perdidas no tempo de amar
heróis de sabão entre os dedos
preocupar-me eternamente
porque os deuses
nunca morrem
no rasgar das andorinhas
nas papoilas rebentando frutos
no cheiro das laranjas de incenso
quando a luz anoitece.
Graça Magalhães, Julho 2008
16 julho, 2008
A FLOR DE MIL PÉTALAS
17º desac acto // o rio arade
onde as tardes
namoram o cais
.
.
.
não é triste nem alegre o rio
da minha cidade
.........................inscrito num corpo poema
o rio da minha cidade
canta o levante em versos de Al.Mutamid e
o crescente esmorece em crepúsculo
enfeitiçado por Ibn Ammar
[ há ecos de lirismo febril no
..............................rio da minha cidade ]
o rio da minha cidade conta estórias
ao anoitecer
quais frutos maduros no instante em que os
pássaros se fizeram ao mar nas rotas
de um Infante
....................orfão de vôos planos
nas margens
do rio da minha cidade
há poemas recheados de vogais
como se as mães vestissem de engenho
as cartilhas por desbravar
o rio da minha cidade é um eco
aberto à Poesia
__________________________
pinturas de jaceq yerka.
15 julho, 2008
14 julho, 2008
12 julho, 2008
Cantiga de Amanhecer
pingo sim pingo não
tens a tua mão com frutos novos da estação
o fogo de àgua o brilho na mão
tens a chuva pingando no momento
lágrima sim fruto vão e ardente
tu abres frutos novos na mão
frutos sim de peles maduras são
soltam-se manhãs nas palavras das tuas mãos
tens da carne do fruto o caroço enxuto
arde o calor na boca resoluta à tarde
é o gesto seguro de quem sabe o luto
ai sim pelo amor ai sim pelo sabor
ai sim pela folhagem das àrvores
ai sim pela vertigem do amor
unindo as manhãs às tardes
José Ribeiro Marto
Dos pássaros onde te ouvi
o recomeço das florestas
a plenitude nas orquídeas de luz
Relembro o perfume das metáforas
a pobre cegueira convocando o coração
o diamante dos pássaros
a destruir a imensidão
o fogo fendendo o corpo
e as suas sementes
recônditas feridas de veludo.
Tudo porque onde te ouvi
eu bebia a música entre diálogos
floresciam ininterruptos
anjos malfeitores
usurpando as palavras
com a forma de um útero
rebentando búzios
na memória mutilada
do silêncio.
Graça Magalhães, Julho 2008
PABLO NERUDA
Pablo Neruda (12/07 de 1904 — 23/09 de 1973):
Um chão corpo carne indecisa. a memória
natureza de mãos que se fundem. a pele sexo
amor físico da terra. há um dilúvio verbal
que goteja o assombro. sob a corola o sulco
melancolia dos frutos. as sílabas mais tristes
línguas faiscantes. a carícia do caos raízes
palavras reverberas infinitas. na boca golfos
menstruados de silencio. confusas unidades
feixes na respiração do mel. a distância feérica
na indolência redimida. o amor prefigurado
fistula sílica do canto geral. subversivo.
Acendo no odre das águas a morte. a seiva
cicatriz varada redentora. a palavra. o eco.
João Rasteiro - "Neruda, Cem Anos Depois", Universitária Editora, 2004
Paco Ibañez - [Pablo Neruda - "Me gusta cuando callas..."].
http://nocentrodoarco.blogspot.com/
http://www.fundacionneruda.org/
11 julho, 2008
ROMANCE
Palavras que tu fazes como nossas
Por dentro do teu rosto
despontam lírios
das brisas de cinza
emergem lilases
a desdobrar os versos
os olhos a fermentar as linhas
junto desdobrando-se
o corpo poético e a sombra
a música dos poemas.
Sei que amanheces tristezas
acendes a luz
dos caminhos sem retorno
emprestas a cada Primavera
o poeta em abandono
assustas a garganta das palavras
acordas sílabas marinhas
emprestas correntes de rios
aos lugares do sonho.
Cavalos rosa rumam
junto à claridade
a tua voz é uma ideia
de paixão eterna
um sentir que te nasce das mãos
quando os olhos se acordam
nas palavras dos outros
que tu fazes como nossas.
Graça Magalhães, Julho 2008
10 julho, 2008
Poema
na outra brás a cor do trigo
caminho ao meio dos girassóis
voa uma chuva de pássaros
comigo
murmuram sonhos na enseada
nas pétalas do trevo de um trilho
antigo
auguram casas de água
vibrando asas num círculo
sempre aberto
é do brilho do sangue a vida
José Ribeiro Marto
trepando no cabelo
cadeiras envelhecidas
entre dedos malva
medindo a pele das saias
sobre uma relva de uvas pretas
deixamos uma escuridão de lábios
suspirando no aroma das substâncias
ao fundo vergava-se um balido
havia nos ouvidos uma cintura
avançando a fechadura das janelas
trancados entre sombras
durávamos na convulsão
transpirando baixinho
na contenção das luzes
Graça Magalhães, 2008, Lavrar no Corpo das Algas, Palimage
09 julho, 2008
1.Kiseru No Yume - Sonho de Cachimbo
Comprei-lhe a estampa, impressa em washi, papel japonês, e levei-a cuidadosamente comigo a caminho do Ryokan (hospedaria tradicional) onde me tinha alojado, em Kyoto.
No regresso, caminhando sem pressa, e procurando registar tudo o que via, deparou-se- -me uma pequena casa tradicional de madeira escura, igual a muitas outras, que vendia antiguidades.
A casa era estreita e comprida. Ao contrário de outras do género, esta possuía a austeridade de ter poucas coisas. Ao fundo, uma Ô-Yoroi (grande armadura) contemplava sentada, um vale invisível, distante mais no tempo que na geografia. Talvez quem envergara aquela espantosa armadura tivesse estado em Sekigahara, pensei.
O ambiente era sombrio, o mês de Março estava fresco mas nesta velha casa respirava-se uma grande serenidade. A luz era apenas a suficiente para se vislumbrarem os objectos, presenças silenciosas de tempos idos. À minha direita, sobre um armário, repousava uma caixa de laca com gavetas, encimada por uma calote de metal perfurado, a deixar adivinhar que serviria para nela se queimar carvão. A presença próxima de um tabuleiro repleto de cachimbos longilíneos convenceu-me de que a caixa tinha sido de um abastado fumador.
Como por simpática necessidade suscitada pelos outros cachimbos, acendi o meu quando, por detrás de mim uma voz feminina me dizia gentilmente: ohaiogosaimasu. (saudação)
Virei-me e uma senhora de idade, envergando um kimono castanho e preto muito discreto, o obi totalmente negro, tudo em perfeita consonância com as tonalidades do ambiente, sorria-me com um ar de bondade digna, algo que sendo acolhedor não era jovial. Na sua voz sussurante disse-me algo que não entendi no meu superficial conhecimento do japonês. É curioso como as japonesas dizem, ao iniciar uma frase, um ah, como quem se lembra de algo, uma como que tomada de fôlego, de que resulta, no subsequente discurso, uma espécie que acorde inicial, impregnado de uma harmoniosa forma de abordar um assunto novo. Dir-se-ia que essa aspiração significa o primeiro passo de um bailado verbal, com compassos suaves onde se percebe a delicadeza posta nas palavras.
Sumimasen, (desculpe) respondi-lhe como pude, watashi nihon go... ié, (eu de língua japonesa...não) devolvendo à senhora o sorriso. Ela foi dizendo mais qualquer coisa de onde discerni a palavra tabacô enquanto se dirigia para o tabuleiro dos cachimbos, levando a palma da mão direita em direcção ao nariz, como que a aspirar o ar. Percebi que gostara do cheiro do tabaco. Ah, imitei eu, gomen nasai (outra forma de dizer desculpe por incomodar).
Ié, ié, respondeu-me sorrindo. E percebi que poderia continuar a fumar.
Cuidadosamente a mão direita foi percorrendo os cachimbos até pegar num cuja madeira brilhava, escurecida pelo uso. A fornalha tinha um pequeno ornato gravado e o metal estava despolido. Fez menção de mo entregar com as duas mãos mas vendo que tinha as minhas ocupadas uma com um saco onde trazia a gravura e a outra com o cachimbo, indicou-me uma mesa baixa para que os pousasse. Desajeitadamente coloquei o saco na mesa, mas tão incompletamente que a gravura resvalou para o chão limpo.
Ah, fez a senhora quando viu a estampa. Ambos nos baixámos para a apanhar, ela com a mão direita tapando o espanto que a boca revelaria. E ficou a contemplar longa e enigmaticamente aquela estampa, e eu a olhar a senhora do kimono escuro, perdida naquela inexplicavel contemplação.
Caiu subitamente em si, novamente com um ah quase surdo, quase apenas um baque. Virou-se para mim e com uma profunda vénia disse-me gomen nasai e, apontando para a estampa com os olhos, segurou-a cuidadosamente, arrumou-a no saco, levantando-se com um sorriso, os olhos baixos.
Pegando novamente no cachimbo que escolhera, entregou-mo com as duas mãos, dizendo Nihon no yume kiseru . Peguei no cachimbo e depois de o admirar, devolvi-lho. Ela disse que não, e com a palma da mão virada para cima, apontada para mim, repetiu o gesto para que o compreendesse. Entendi que era uma oferta. Ora olhava para o meu cachimbo ora apontava para o cachimbo que me entregara, arrastando meigamente as frases finais, imperceptíveis para mim. Senti-lhe porém a determinação e limitei-me a retribuír a vénia com um domo arigato gosaimashita . Respondeu-me que não, que não era preciso agradecer. Depois dirigiu-se à caixa de laca, abrindo uma gaveta de onde retirou um estojo em esteira antiga e uma bolsa em brocado. Por momentos julguei ver encostado à caixa, um espelho redondo com uma pega, todo em laca preta. Tabacô, disse-me, mostrando a bolsa. Nihon no tabacô.
Aos meus agradecimentos respondeu ié, ié, entremeado de um sorriso bondoso.
Embrulhou-me as ofertas que estranhamente me fizera, com grande perícia, num lenço de uma côr verde jade com padrão de corações e pintas brancas.
(...)
Não resisti à tentação de iniciar a publicação deste belíssimo conto [ ou esta magnífica prosa poética ] do meu multifacetado amigo António Conceição Júnior. Todavia, como o conto é assaz longo, para não perderem o ritmo, aconselho.vos a lerem.no, na íntegra, em Brumas do Kamogawa
Recensão a "Vindimas da Noite"
08 julho, 2008
PRODIGIOSO ACANTO
mal iluminado à hora
do combate da luz
e das sombras
como diz Ovídio
quando o sol
abre a terra aos olhos
humanos
ou se fecha ele na água
porque à luz do dia
andaram os ecologistas
que querem salvar
o acanto
os amentilhos
e até as suas escamas
róseas
porque é em maio
terreno húmido
as folhas espraiam-se
enrolam-se
erguem-se entrelaçam-se
cobiçadas sempre
por si mesmas
atraem pensamentos
inquietos
que nelas se refugiam
algum medo
alguma dúvida
alguma falta
não sei não canto
vassouras de bétula
enfeitadas com um penacho
de acanto
enquanto fieiras de fogo
de olhos
de pequenos bichos
do mato
texugos tourões
as seguem por terra
(...)
in PRODIGIOSO ACANTO, pp.39 a 41.
Fotografias de Augusto Mota. A primeira imagem - um tufo de folhas de Acanto - foi obtida no sopé do monte do Castelo de Leiria. As restantes imagens foram obtidas muito próximo da "nascente" do rio Lis. Em ambos os locais o ACANTO encontra-se ainda no seu estado espontâneo. Ver as restantes fotos deste "safari" fotográfico e textos anexos em:
07 julho, 2008
Incondicional...
Que inspiram a minha vida
por quem irei permanecer
06 julho, 2008
Trilhos Silentes
que um minúsculo jardim é a terra inteira
e os teus olhos, são estrelas, esmeraldas.
Se me inundares com vagas de brancura, dir-te-ei
que é nos touros negros que a luz implode,
que os insectos são estranhos animais
e que a a poesia é um lugar de aloendros,
matizados de sangue.
Por vezes, minúsculas borboletas em volta
de uma língua de argila e pó, produzem múltiplas
imagens, que percorrem o eco remanescente
de andorinhas pulsáteis.
Em ti, leio a secreta vocação onde o sol se multiplica,
na haste policroma, onde o imaginário regressa
e recrio a noite, o lume, o vazio,
pelos sons que se abrem à límpida impulsão,
à centelha mutante, à fulguração exacta,
à chama perfeita.
Em ti, leio a vocação imaginária, o fulgor exacto,
o rigor incessante de um rasto luminoso,
negro, eloquente
Maria do Sameiro Barroso, in "As Vindimas da Noite".
05 julho, 2008
É a voz do pássaro
único riso
que preenche
luminosa a pele
no vértice do fogo
entre a neve
guardo a boca húmida
a sedução calada
a mais dolorosa
de ti
único e absoluto
para mim.
Graça Magalhães
Corpo de rio, 2005, revisto em 2008.
La Bata Rosa, 1916
quando o dia e a noite se unem
num eixo castanho e fresco
em que nada estiola o debrum
da paisagem limitada pelas casas
por um caminho de bicicleta
uma roda de carro de passagem
por que não perguntas pelo sol
no silêncio das janelas entreabertas
por que te adiantas a festejar
um aluguer um roteiro de felicidade
num mapa cego
um poder
por que não perguntas pelo sol
pela água pelo sal pelo fogo por um fruto
pelo nome de um pássaro ouvido na cidade
pelo silêncio do seu nome um grito novo
outros procurarão as tuas nuvens
quererão a tua chuva
nada encontrarão
nenhum facho luzirá
nem os ventos vadios serão
perguntarão por ti e partirão
empacotados num rumo de mapas
encontrando o que só viste neles
e andarás vazia com um fole no ventre
muitas serpentes nos braços
a escamotear o que sentes
José Ribeiro Marto
04 julho, 2008
in memoriam
sob o lençol parecia um anjo quase humano
o rosto assustado pela manhã sem aves
todo o corpo inclinado para as estrelas do chão
as mãos muito frias
cabelos alvos num verão quase sem sol
de quando em quando
o vento trazia uma palavra de volta
e toda a casa refulgia no silêncio do quintal
agora junto às árvores
a voz da neve
onde a lira dos bosques dorme
maria azenha
óleo de ines scheppach
no espelho dos teus lábios
o silêncio que agora se mira
no espelho dos teus lábios
trouxe-me ao mundo
porta para outra vereda
que me recolherá na morte
- minha mãe -
devo ser a luz de um sonho antepassado
os dias que viajam em vertigem
Maria Costa
De repente....
do fundo
do horizonte
ardendo em lume
veio um pássaro pousar
numa linha de água
vinha limpo a voar
no mundo nem uma só palavra havia
e uma só palavra o pássaro queria
por instantes resgatar
nas tintas secas das árvores cinzentas
se olhou vendo-se
e alguém murmurou dizendo:
vi um pássaro de brilhantes penas
na sua lava irradiante de fogo a voar
uma manhã branca como mundo
creio que vinha buscar
José Ribeiro Marto
03 julho, 2008
Receita para um corpo inteiro
o movimento
aconchega-se o sexo perfeito
despe-se a lua devagar
subindo água flor de mar
Toma-se as mãos
a boca o colo branco
o corpo fundo de rio
as raízes no peito
um flutuar
de vai e vem enlouquecido
redondo perfeito faminto
ao limite do azul em desafio
até ao fim
ao abismo do corpo inteiro.
Graça Magalhães
Corpo de rio, 2005, revisto em 2008.
01 julho, 2008
a casa portuguesa (2.ª ed. revista e actualizada)
letra
encaminho-me, nostálgica
para a vogal
do arpejo mudo.
.
vibrátil, estremeço
a consoante.
do tacto.
.
.
.
encaminho-me, vibrátil
para o tacto
consoante vivo.
.
maria toscano, foyer do TAGV a 10 Julho 2006 (in sulmoura)
Canção de embalar
dorme minha filha dorme
sobre os ursos de algodão
aquieta aí o teu sono
tens aqui a minha mão
dorme minha filha dorme
puxao sono a cordelinho
com que puxas os cordeiros
pastando no lençolinho
dorme minha filha dorme
vou-te dando o meu carinho
agora dorme , dorme dorme
eu vou cantando baixinho
dorme ninha filha dorme
é a tarde um passarinho
canta algures no outeiro
ou no leve ramo do loureiro
José Ribeiro Marto ( 1999)
marcha das pessoas felizes pela salvação do mundo
Porque nós somos felizes,
Sem distinção de países
Pela glória deste mundo.
Onde quer que a gente for
Nossa alma vai contente,
Porque abraça com amor,
A alma de toda a gente.
Nós acordamos bem cedo
Com o sol nos nossos olhos,
Marchamos, velhos e novos,
Contra as trevas do medo.
Está tão leve o coração
Que o corpo vai pelo ar:
Vamos todos a cantar
Sem pousar os pés no chão.
Não queremos ninguém de fora
Nesta nossa caminhada,
Esta marcha é de agora,
Não pode ser adiada.
Vivamos este momento
De gente feliz unida -
Não há mais tempo no tempo
Desta nossa curta vida.
Senão é tarde de mais
Para recompor o mundo.
E se eu vou, tu também vais,
Vamos marchar em conjunto.
Senão é tarde demais...
Senão é tarde demais... António Simões, inédito ,in "Seis Letras Para Canções".
o coito cibernáutico entre um espermatozóide e um óvulo
o nosso espermatozoidezinho começa por lhe lançar um CAPS LOCK , seguido ,no imediato ,de um WINDOWS MESSENGER .rendido, mas não consumido ,o óvulo assume ,como lhe convém ,o PAINEL DE CONTROL ,enquanto
o espermatozóide ,após o uso e abuso do MOVIE MEDIA PLAYER ,atinge o NTI BACKUP NOW!.
em RESTAURO DE SISTEMA o espermatozóide recua.
ENTER! – insiste o óvulo e
o espermatozóide PG UP fecunda o óvulo.
passados nove meses ,mais dia ,menos dia ,o óvulo entra ,em hora de parto ,num MEDIA CENTER
a gritar
,ERASE.me ,ERASE.me
após um estudo laboratorial aos seguintes anti virus - PANDA ,NORTON ,AVAST ,McAfee ,Sophos ,Avira e RAV - os accionistas maioritários da Microsoft chegaram à conclusão que o método convencional continua a ser o mais aconselhável
gabriela rocha martins [ numa manhã de levante ]
imagens retiradas da net.