31 maio, 2008
Se é treva ou se há luz
30 maio, 2008
e essa não disseste
boomp3.com
Voz de Sónia Pereira- grupo Experimentarte
poema de António Simões
isto escrevo
chove
chove
e o mundo é grande
igual a um deserto
que não cabe em nós
nunca somos de um mundo apenas
é isso que nos dói
quando andamos sobre o soalho
desta casa
escoando para as fendas os barcos que vida tem
estou hoje num território
onde
todos os despojos se amontoam e dispersam
dentro do meu olhar
talvez não saibas
mas divido contigo
uma coisa feliz
poema/fotografia - Maria Costa
29 maio, 2008
sou um vagabundo
Cordão Umbilical
Na beleza incurável das feridas
alimentam-se mães sem trégua.
Nos rios secos, batem e batem os corações
alimentados em sangue frio e espesso.
Que é lívido. Que procura as raízes.
O coração é um bicho estranho, que vai
caminhando gota a gota. E as feridas incautas
aproximam-se das mães, imprudentes ao peso
de cada sopro. O amor eternamente feroz.
E as feridas das mães, são cada vez mais belas.
O medo caminha violentamente mais perto,
no corpo, na cara, nas vértebras e no ventre
onde se abriga com seu volúvel volume,
o silencioso amor de mãe.
Sob a folhagem da água, mães cansadas
da aridez que as toca, incendeiam-se através
dos filhos. E os filhos, esse chumbo cravado nas asas,
esse projecto que sobre o mar se estende,
alimenta as feridas pelos tendões.
As mães debicam sobre a areia a sua rota clara,
até ao fim do mundo. Como pela última vez.
Sobre a montanha, um filho incorpora-se na beleza
incurável das feridas, enquanto mães tacteiam
a pedra, até ser flor.
Por vezes sangram e cantam, secam os olhos,
arrancam os sexos e em permanente luta, corpo
a corpo, o amor estende-se, mas os gestos
são frios, neste caminhar obsceno
de pessoas sem frutos. Há-de caber numa gota,
todo o tempo, todo o amor, de uma vida sem história.
In, No Centro do Arco - João Rasteiro
.
John Lennon in Madison Square Garden / Mother
.
http://nocentrodoarco.blogspot.com/
28 maio, 2008
A BRINCADEIRA
um dedo molhado ao vento
inferir – é muito provável que alguém
deite culpas para cima do menino, dele andar por aí
a dar uso à natureza
de manter quentes no bolso os planetas que lhe convém
porque os berlindes
inócuos frutos de vidro no bolso da criança
são bolas de cristal dos bruxos crescidos
adivinham as quatrocentas e noventa parábolas a viver
as algibeiras do menino são fundas
e os adultos sabem disso, como sabem
na verdade qualquer criança é algibeira funda
daqueles que por miopia do olho espiritual
irrompem maioridade
por vezes tão funda
a ponto de por momentos encobrir toda a farsa
não há tribunal que apure esta causa
um pouco de natureza por estas paragens
igual à do menino que
de cova em cova
anda a puxar sorte aos berlindes
Porfírio Al Brandão
os lobos
.
(como sabemos todos, há edições de textos que são "madrastas"... por isso não edito aqui. Aliás, assim, não ficam obrigados nem a ler, nem aos comentários)
:-)
.
Abraço!
Belo, o novo rosto deste blogue (embora prefira as cores cálidas)
maria toscano
.... um homem com maiúsculas
sobre o leito dos rios que desaguavam
Com Dali na esplanada do Majestic - para pôr a conversa em dia
se o teu bigode fosse só dois tesudos cornos
perdidos na vazante de um nariz fradesco
...............e o teu olhar
que sobreleva pelas vitrinas
arrastasse os nevoeiros
os ócios os pedantes os peixes que devoram raízes e solstícios nos lumes da cidade
(só que o real é isto que tu vês e eu sei dos pesadelos todos sobre os fogos – o real só canta as cicatrizes e sangue de fantasmas)
...............pelas paredes da chuva em Santa Catarina
...............derretem-se os olhos de gelo de um marujo
...............que as marés do Outono abalroaram contra as montras de círios e dos medos em saldo
e há chatos lilases que dançam em pontas o Pássaro de Fogo
sob os olhares inquietos do café Magestic
Lorca
enverga a capa de um toureiro morto
vai driblando a Agustina e seu chá de varizes
enquanto engata o criado crioulo que traz sobre os ombros as crinas
de um miúra perdido na solidão dos curros
Manuel de Oliveira
faz um Anniki Bóbó em câmara lenta
dança com a Agustina um flamenco asmático
acenam ao Camilo que toca castanholas nas grades da Cordoaria
...............(a Amélia dos olhos doces
...............tem órbitas descarnadas
é o que acontece às putas gulosas
que vão à Cantareira
desnudar o assombro)
Dali
retoca o pó-de-arroz e o verniz prós calos
frente aos espelhos cegos
e grita pela mãe que vende desassossego a juros num sótão do Bolhão
Picasso
joga à bisca com o Ricardo Pais e baralha a verdade e o real até ao osso
o Klee
aluga quartos de hora na Ribeira
o Miro
estrela órgãos sexuais para brincar aos deuses
Dali
ergue o pescoço para mijar mais alto
a bica traz o preço
das luvas da Vénus de Milo
.........................há tempo derretido no grito das sarjetas
...............há cavalos alados dançando zarzuelas
...............no empedrado roto da praça da Batalha
Lorca
apanhou o comboio em Campanhã
a las cinco en punto de la tarde
...............(leva a tiracolo o criado crioulo
...............e um par de bandarilhas pró que der e vier
- ainda não sabe que há um fuzil escondido entre os olivais
dos campos de Granada)
neste chão de Setembro
uma girafa em chamas compra veludo ao preço da mais pesada angústia
Buñuel
traz à trela un chien andalou
e um penacho rançoso usado pelo Franco na feira de Valladolid
...............duas virgens pernaltas alçam a perna e acendem
...............um lastro de azinheiras lúbricas na Torre dos Clérigos
desaguam no Douro
um Minotauro asceta
um relógio vomitando guerras e reumático
um burguês em ceroulas com os vícios truncados
e o Primo de Rivera que vem ensinar as técnicas da punheta
aos efebos da Foz
...............num beco da Ribeira Breton troca o manifeste surréaliste
...............por 2 gramas de haxixe e uma puta com musgo nas axilas
Giorgio de Chirico
tem uma água-furtada que a polícia vigia
e vai regando alhos porros e os seios da Gioconda para amansar o tédio
Max Ernest
faz trottoir à noite na Trindade com dois travestis vesgos
sabe que as rugas da lua não dormem nas valetas
e há uma ilógica sombra que aquieta as musas
Eu, Dali
penduro os teus relógios no tempo que nos foge
o Magestic já dorme com a noite nos dedos
e o orvalho cega a fímbria do real
...............amanhã se chover estrumamos a língua com os húmus da véspera
...............deixamos que as palavras se afoguem devagar
DOMINGOS LOBO – Porto, 26.5.08
Romance
_água bendita aquecida
a moça diz à rapariga:
_ainda não houve partida
a rapariga repete à moça
o seu pedido leal :
-traz-me água aquecida
se não houve partida
água não me fará mal
a mãe rompe aparecida
desenganando-a do choro
promete-lhe água vinda
lembrando-a do decoro
da sua afeição ao bragal
a rapariga pede à moça
-àgua de flores água de mel
água que mate espadas
fala-lhe o coração infiel
a mãe por perto almeja
o véu sobreposto ao céu
é tudo o que deseja
numa guerra sem desgosto
sem espada e sem burel
a rapariga pede à moça:
-àgua e três candeias
duas alumiam o rosto
outra o desgosto da ceia
a rapariga diz à moça:
- morre a chama na candeia
a moça vê-se vencida
treme o corpo à rapariga
outro dia virá depois
uma prece em cada dia
a rapariga no seu desgosto
reza no rio alegria
in palimpsestos ( 1) José Ribeiro Marto
hoje falaram-me de amor
hoje falaram-me de amor
gritaram-me aos ouvidos a palavra amor
disseram-me que o amor é amor e
as pessoas choram em casa fechadas
na televisão que trazem dentro do peito
com a palavra amor fazem-se grandes coisas
não sei se já ouviram
mas hoje falaram-me de amor
as folhas caídas em maio chovem nos passeios
podem ser gravadas numa caixa de lágrimas
para arrumar à noite
lembram gotas da chuva que caiem em cima dos pobres
porque há amor e pobres para amar na palavra amor
habito desde sempre um lugar de pedras
dou-me conta que a palavra amor
deve custar muito dinheiro
comprei hoje um dicionário de sinónimos
não vem lá
merda !
sou lúcida!
maria azenha
fotografia de Ben Goossens
27 maio, 2008
cercam-te as águas do silêncio
na página branca da bruma
onde
sem que o saibas
és nada.
na espessa solidão das pedras
julgas reconhecer a música das esferas
e nada és . e nada muda.
vem um guardião trajar-te de infinito
adornar-te com algumas pérolas
para a grande cerimónia da voz.
não compreendes porque o faz. e
nasces a chorar.
tua mãe logo acende algumas horas
no caminho das formas
amamentando - te de luz
para que não venhas a cegar
de escuro
cantas então com as estrelas da noite
sobre um trono de relâmpagos
como uma alma assente em luminárias de fogo
acesas no altar do coração do mundo.
supôes-te o mais livre dos seres.
mais à frente em tuas vestes resplandecem
as primeiras letras de bronze
oriundas do antigo
jorrando em castiçais de ouro
os primeiros frutos.
julgas que não és humana
mas uma deusa no mundo.
- e faltam coisas tão eternas como a eterna mudança,
frágeis ânforas para o esplendor do lume -
é então que tremes . conheces a vastidão do nada
porque foste queimada pelo fogo
trespassada pela espada das dúvidas
lançada à dispersão e loucura.
difícil é agora quando retornam aos dias
os seus carvões escuros
e ocupas o lugar dos muros
ainda por arder
até que saibas onde o poema habita
cercam-te as palavras
os gestos
a voz
a vida inteira é tua
maat in a luz do poema óleo de helen knoop
26 maio, 2008
lugares de Abril
cercados de água
no interior
que desconheço
soprando o ópio
da paixão silvestre
dedos que se alongam nas teclas
de cada poro de medusas amarelas
a exalar a ternura
há palavras violeta
seguram frutos de luz
uma voz madura
na cadência das pálpebras
com as tranças presas à lua.
Graça Magalhães
de tanto amar
vem dizer as palmeiras, pupilas do vento,
perfiladas à margem dos meus sonhos. vem
escrever os olhos do alvorecer nos meus olhos
para que o sol devolva luz suprema ao sentido.
sabes, ceguei. de tanto amar ceguei. tacteio a terra.
planto o que não sei, na esperança de que alguma coisa
possa acontecer. podem aflorar aves nas mãos do cacimbo,
subitamente, a cantar um país que a chuva deixou amadurecer.
mariagomes
in " Di Versos"
Revista Semestral de Poesia e tradução ( 8)
Coord. de Jorge Vilhena Mesquita e José Carlos Marques
Edições Sempre- em- Pé
25 maio, 2008
Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de
cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os
olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
— Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.
.
Herberto Helder
.
.
.
1.
deixa rasto marca pasto para que o ardor subtil
no rescaldo do regresso
deposite gotas de húmus ardente de comoção.
nesse lastro do ardido o húmus incandescido
faz-se criação sublime.
sendo o mover-se
tudo move
o que não arde e
intacto
se perdura no esplendor de seu ardente fulgor.
é o lugar da permanência:
perdurar
o que semeia.
Fados dos Quatro Elementos
Não apresses o meu fim –
Vou cantar-te fado de água:
Lava a dor que trago em mim.
Lava e leva o sofrimento
Para longe dos meus passos,
Como se fosses o vento
Soprando entre os meus braços.
Ó fado de cada dia,
Em que minha alma procura,
Quando a manhã principia,
Novo amor, nova ternura.
Mal ouço a fonte cantar
Logo sinto o coração
Sua dor suavizar
Na água dessa canção.
Fado de oiro, fado de água,
Só tu fazes esquecer
Esta ferida lacerada
Que rasga todo o meu ser.
Por isso te cantarei
Para que a dor suavizes,
E onde impera a tua lei
A todos tornes felizes.
Vai correndo, fado de água,
Dentro de mim e por fora,
Faz nascer a madrugada
Quando a noite me devora.
( clicar sobre as imagens para aumentar )
Poema de António Simões, inédito [ Fados dos Quatro Elementos ]
Textos Transversais de Augusto Mota.
pontes que se atravessam pouco a pouco
lençol poema de orvalho quase gelado
na cadência das luas que ficaram
nascem na primeira carne
palavras abertas
gemem estreitos caminhos fechados
um rio atravessa órgãos poderosos
e enquanto estou ouço-me chão a abrir
de fervor completo e soterrado
esse olhar cercou-me com os olhos
ironia a doçura irreprimível
nada pode parar o corpo no meio de um instante
iludir qualquer promessa de rios sossegados
ousar o contrário dos dias
e o fantástico mundo profundo em círculos
onde se abrem deltas lábios de desejo
quero dizer
estaremos sempre lá no lugar das fêmeas
do silêncio.
Graça Magalhães, 2006, Na Memória dos Pássaros, Palimage.
24 maio, 2008
Rotas infinitas
.
na exposição do argumento,
tremem visivelmente,
ele permanece sereno, pousado
(gota de orvalho sobre a agulha do pinheiro)
no momento presente.”
7.
E o que cada rosto a rosto possibilita: os olhos que ficam expostos, abertos no enlace (in)completo antes de acordar o bafo intocável dos gestos e a folhagem da indaiá, lentamente, muito lentamente, é uma língua de metamorfose(ar) desejos, de sabor para ficar na sombra da tarde, na sombra do Mondego e tudo em ti ja(zia) transborda(ndo) a flor de fogo atravessada dentro do corpo, a arte mais forte de morrer de amor, de morrer na corola extasiada da flor, para poder arrebatar o sémen antes de se tornar sangue, é que já tardam de tardar as manhãs serôdias de nevoeiro, deste(s) corpo(s) talvez demasiado consumido(s) de fome ou luxúria e por entre o sorriso louco das mulheres que enlouquecem visões (im)puras, há um jardim de onde saem todas as borboletas, a clara visão do (im)possível. Sob a boca dos céus o amor cintila como um olho de tigre. Neste lugar em que as almas vivem, onde o que mais prevalece é o amor descartável, a notícia de que o filósofo André Gorz e sua mulher, amante, amada, se suicidaram para que nenhum deles (sobre)vivesse (a)o sofrimento e à ausência do afecto, às madrugadas que murcham nas bocas sol(dadas) ao amor, faz-me pensar que talvez nenhuma palavra será suspensa ou revelada como outrora. A(com)panhar alguém no caminho da morte é algo d(emasi)ado supremo e de entrega ao outro, para que o bafo (in)quieto dos animais ainda se acenda para os dias de hoje. Um exemplo de como a morte é parte da vida e a raiz é parte da flor. E os firmamentos enfeitiçaram-se com os seus crimes e traições – o selvático desejo e o amor perverso - o infindável e contíg(u)o círculo da paixão, a(s) pétala(s) florescendo, a magnificência das fogueiras onde só acasalam os pirilampos sagrados. E o que cada rosto a rosto possibilita: tu, uma pétala nua.
In, " A anatomia d(um)a flor ou a metamorfose da raiz da língua".
.
23 maio, 2008
É desta!
22 maio, 2008
ao Sul...
***
Nas Margens Da Poesia
canto-te com duas sílabas
uma aberta outra muda
canto-te não deixando
que o canto se disperse
e difuso estreite a rua
canto-te ao sol da manhã
com alegria crescente
canto-te no teu voo
cantando o que de mim sou
cantando o que de mim sente
canto-te com a chuva
no silêncio desta tarde
canto-te na nua boca
onde o amor ao dia sabe
José Ribeiro Marto
A matriz do mundo
Não posso adiar o amor para outro
século - não posso!
-António Ramos Rosa-
.
O amor ferve de uma ferida exangue
de foles de corpos frescos
de caminhos e sonhos dilatados
de vertigem de ser só sede
de espaços que se tornam pele
de palavras de gume branco,
o rumor azul.
.
Há amor carregado de sol e águas cegas
e há amores como lágrimas fulgurantes
como um eco de um princípio inacessível.
.
O amor vem de corações fragmentados
de um sabor para além de tudo
de uma disseminação de vozes
de bocas e fogo unido à terra
de uma força feroz nos pulmões
de torres de sílex negro,
animais insólitos.
.
Há amor aberto de imensas pedras cruas
e há amores entre a parede e o silêncio
como linhas paralelas de pequenos círculos.
.
O amor forma cúpulas diáfanas
de livros ilegíveis na sombra
de arcos sob grandes gargantas ocultas
de um corpo côncavo em luz
de um tempo concreto no respirar do verbo
de profunda ausência nas raízes,
a chama da terra.
.
O amor dilata-se e dilata-nos de veias ateadas
invoca e insufla a pele sagrada de sal aceso na água,
é serpente que morde a própria cauda diurna
dilacera palavras nuas por outras palavras desnudas,
.
mas, não se pode adiar mais o amor indivisível
que rasga o mundo feérico na dobra aberta dos dedos
íngremes no cintilante jade onde nasceu a magnólia.
.
Não se pode adiar mais o coração do amor inicial
que acende o tempo no lume venerável das pirâmides,
essa nudez de memória álgida que nos aflora a boca
que estremece de melancolia os corpos inóspitos de Deus.
João Rasteiro
Where is the Love? - Black Eyed Peas
João Rasteiro - (ao poemarte).
21 maio, 2008
Recital Poético-Musical pelos Experiment'arte*
3 .Paulo Pires [coros e acordeão ]
4 .Paulo Pires e Ricardo Martins [ voz solo e piano ]
5 . Sónia Pereira
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20 maio, 2008
De açafate no braço
Homenagem a Urbano Tavares Rodrigues - O Poeta da Palavra Vida
2. A mesa - Inês Tavares Rodrigues, à esquerda, Isabel Soares, a presidente da Câmara Municipal de Silves, ao centro, e, Domingos Lobo, à direita.
3. Isabel Soares, a presidente da Câmara, no uso da palavra.
4. Domingos Lobo falando sobre Urbano Tavares Rodrigues
5. Domingos Lobo
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19 maio, 2008
saber o sal
....................louca mente
quero dormir a noite
acordar o dia
no silêncio de mim ou na confusão
de ti
quero olvidar o complexo
solto de um afago negado
sentido de repente na mão
que estendo ao encontro
de nós
quero ser água e vento
lamento quase ausente
presente no estar aqui em ti
sem mim
quero abrir o pranto à alegria
imensa de um encontro a sós
em nós pensados em sol
sustenido ou sentido no piano tocado
a sul
inventado a norte
quero ser a ausência presente
no sentimento vivido nas mãos
que percorrem os meus e os teus cabelos
revoltos
quero
inventar um canto de repente
não
quero dormir e acordar
so[mente]
se alguém disser o contrário
mente